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A forma como me dedicava à escola, sendo sempre uma das melhores alunas da turma; a minha entrega ao desporto; o carinho e respeito com que tratava colegas e professores na escola, e as outras pessoas fora desta; não faziam antever que iria ter uma vida em que tudo iria abandonar em prol do álcool e das drogas, que entraram na minha vida no final do secundário e ficaram por 13 anos.
Comecei por querer fazer o 12º ano em 2 anos, tendo sido a minha primeira procrastinação. A primeira experiência foi em álcool, com a minha turma de desporto, e outra com haxixe, com a turma de artes e o professor. Quando fui fazer os exames o meu uso havia galopado para diário.
Claro que baixei as notas, mas cheguei a entrar na faculdade pública de desporto que tinha como 1ª opção. Foi o último sucesso que tive.
Depois disso chumbei 3 anos por faltas e achei que se mudasse de curso as coisas podiam melhorar, pelo que fui para psicologia numa privada. Quando chegaram os primeiros exames não os quis ir fazer pois tinha ido a poucas aulas e não me sentia preparada. Estava mesmo a ver que as notas iam ser uma desgraça e não quis passar por essa vergonha, então para mim era mais fácil desistir.
Decidi ir trabalhar, mas como levei a minha adição comigo e, apesar de ter conseguido trabalhos que gostava, acabava por os perder porque as pessoas ao longo do tempo apercebiam-se do meu uso, o que era incompatível com os trabalhos. Até aqui ainda tinha a chamada vida dupla, em que uma pessoa vai fazendo coisas para além do uso.
A nível desportivo jogava futsal numa das melhores equipas do país, federada. Antes do uso tinha feito voleibol, atletismo e futebol de 11, tudo de competição. Pela altura jogava futsal e mal, pois faltava muito aos treinos e a forma física não era grande coisa. Houve um treino em que experimentei uma forma de usar que, para mim, ainda era quase desconhecida, e marquei 5 golos. Pensei que havia descoberto o segredo, mas nunca mais aconteceu, embora depois tivesse ido várias vezes no mesmo estado. Acabei por deixar o futsal para não fazer nada de desporto.
Os amigos foram-se afastando à medida que o meu uso progredia e acabei mesmo por deixar de ser convidada para os convívios, que era costume fazermos, e de frequentar a casa deles. Acabei sozinha, pelas ruas da minha cidade e quando via um estudante de capa e batina ou um amigo já na sua vida, a namorar ou mesmo com um bebé, doía demasiado e eu usava por cima disso, parece que doía menos.
Durante anos andava pelas ruas a arranjar dinheiro com uns folhetos na mão e um palavreado que flui de uma adita, cujo único propósito era usar e voltar a usar. Dormia e comia quando o cansaço e a falta de forças chegavam.
Um dia fui para tratamento. Não resultou o 1º, nem o 2º, mas o 3º resultou e só por hoje já levo mais de 10 anos limpa.
Voltei aos estudos na universidade. Já tenho uma licenciatura e espero conseguir concluir o mestrado. Voltei a praticar desporto, uma arte marcial! Voltei a estar com os amigos de antigamente e ganhei mais uns quantos através dos Narcóticos Anónimos, o programa em que se baseia a minha recuperação.
Naquelas ruas, perdida, sonhava com isto e algo me dizia que um dia ia ser possível, mas eu não fazia ideia como, porque as pessoas que conhecia do uso iam presas, desapareciam, eram internadas para um desmame e voltavam ao mesmo, e eu não conhecia ninguém em recuperação que servisse de exemplo, de que é possível dar a volta e voltar a ter uma vida.
Hoje tenho dificuldades como qualquer pessoa, mas penso que tenho que as ir ultrapassando, pois como ouvi uma adita dizer, e faz-me bastante sentido “estou em recuperação para construir e não para destruir”.
Que assim seja!
Obrigada.
Só por hoje, +24 horas!
Escrito por uma adita grata.
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