O luto pode ser uma das experiências mais devastadoras e difíceis de enfrentar para o ser humano!
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É um processo doloroso, que ocorre no decorrer de uma perda significativa para o indivíduo e que gera angústia, confusão emocional e vários sentimentos (tristeza, raiva, saudade, frustração, impotência, solidão). Em muitos casos, estes sentimentos e emoções associam-se também a sintomas físicos.
Este estado emocional desesperador é vivido individualmente. Cada pessoa reage e lida com seus sentimentos de forma diferente, dependendo da sua faixa etária, personalidade, estrutura emocional e vínculo estabelecido.
A maioria das pessoas viveu ou viverá o luto algum dia! Este é um processo, natural, interno e comum a todas as pessoas que, a certa altura, perdem alguém importante nas suas vidas quer por morte, quer pelo rompimento de um vínculo (o fim de uma relação amorosa ou um divórcio, a perda de um animal de estimação ou de um objeto, uma situação de perda do emprego ou de reforma profissional, a mudança do estilo de vida, uma situação de doença grave ou de incapacidade, etc.).
O luto é, assim, uma resposta adaptativa a uma perda pessoal, para o qual o individuo tenta encontrar recursos e estratégias de superação.
Por exemplo, no caso das dependências, a ideia de parar com o consumo de determinada substância ou de parar com o comportamento disfuncional, remete para um processo de luto, de perda. Portanto, nas adições o luto é um processo difícil, pois representa o fim de uma relação com o álcool, drogas, jogo, sexo, trabalho, comida, etc. Esta vivência gera dor e sofrimento, deixando vida do adito com a sensação de “imenso vazio”.
Deixar os consumos ou entrar em recuperação, significa abandonar a relação com a substância/comportamento, representa largar um estilo de vida disfuncional e aprender a viver de maneira diferente.
Para as pessoas em recuperação de dependências, a dor de uma perda pode servir como um gatilho para voltar ao uso de substâncias. De notar que, o consumo de substâncias psicoativas é uma das formas desadaptativas de procurar preencher o “vazio” que fica com a perda de alguém significativo.
Noutros casos, estas experiências dolorosas podem servir impulsionadoras para a mudança, levando a pessoa a perspetivar e dar novo significado às suas vidas. No luto, existe um padrão que é comum.
Vários autores propuseram modelos que descrevem estágios ou fases no processo de luto, que são: a negação, a raiva, a negociação, a depressão e a aceitação. Vivenciar estas etapas, nesta ou noutra ordem, é importante para que o indivíduo possa ressignificar sua vida.
Por isso, no período a seguir a uma perda significativa, é muito importante estar atento a sintomas como: tristeza profunda e isolamento social prolongados, ideações suicidas, alucinações ou ideias delirantes, insónia perante.
Quando a pessoa fica presa numa destas fases do luto, sem conseguir avançar e realizar todas as tarefas do luto, o processo normal de luto não é realizado, desenvolve- se o luto patológico que interfere negativamente na vida e nos relacionamentos. Nestas situações é imprescindível a ajuda especializada. Felizmente, esse estado de sofrimento extremo, na maior parte das vezes, não perdura no tempo e faz-se naturalmente.
O luto é uma resposta saudável a uma situação difícil, é preciso que se passe por essa fase para que, então, o indivíduo encontre a serenidade e a paz de espírito. O trabalho de luto envolve um confronto com a realidade da perda, uma vez, que não se espera que haja uma recuperação total, mas antes uma mudança. Trata-se de um processo construtivo em que a pessoa enlutada terá de desenvolver novas estratégias para lidar com situação.
A superação do luto ocorre gradualmente, pois as pessoas vão recuperando a sua energia, fortalecendo-se e organizando-se internamente. À medida que o tempo passa, é normal ir aprendendo viver com a ausência e ser capaz de conviver a perda de forma saudável.
Em suma, apesar de causar sofrimento, o luto é um processo que temos que viver até ao fim. O luto normal tem princípio, meio, fim e é favorável à saúde. Perante uma perda, cada pessoa deve viver o luto para depois conseguir seguir em frente. Para isso deve dar a si própria tempo e permissão para o vivenciar.
Quer a negação da perda, quer o carregar para sempre essa dor do passado, são lutos que não são resolvidos e levam a vidas estagnadas. A dor só passa quando a enfrentamos e passamos por ela. Para cada uma, existe um período de superação.
Sentir, é parte do processo!
Texto da Autoria de:
Maria Luísa Lameiras Rebelo
Psicóloga Clínica na Recare
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