top of page
Buscar

Cuidarmo-nos bem é simples e previne recaídas.

Foto do escritor: ReCareReCare

Quem supera uma dependência com apoio terapêutico, reconhece o impacto que algumas práticas simples têm no estado emocional, mental e físico de cada um. Dormir bem, não estar muito tempo sem comer e ter amigos com quem falar, são preceitos que conhecemos desde crianças.


Mas, tal como muitas outras coisas simples e importantes que aprendemos quando éramos pequenos, também estas são frequentemente esquecidas.


Ora, as pessoas que se viram enredadas numa perturbação aditiva, desrespeitaram frequentemente os limites do seu corpo e usaram substâncias e comportamentos (como o jogo, ou as compras compulsivas, por exemplo) para evitarem sentimentos e pensamentos difíceis relacionados com frustração, angústia ou ansiedade.


Uma vez libertas da obsessão por consumir, percebem que têm de gerir estas emoções e sentimentos difíceis, já que os desconfortos físicos e emocionais podem suscitar uma nova vontade de evasão através dos seus comportamentos aditivos. Para isso, reaprendem que cuidar da sua saúde é uma responsabilidade prioritária e pessoal. Dito de forma mais simples, é preciso manter os níveis de ânimo e de bem-estar para prevenir uma recaída.


Uma das maneiras de tornar esta responsabilidade inesquecível, é o acrónimo H.A.L.T. Esta é uma mnemónica bem conhecida por quem lida com a adição. É de tal forma poderosa, que há muito vem a ser utilizada noutros domínios da saúde, do bem-estar e da gestão de pessoas e equipas.


Vejamos, então, o que representa esta sigla:

H (hungry=com fome), A (angry=irritado), L (lonely=solitário) e T (tired=cansado).


Por aqui se percebe que esta é uma maneira rápida de nos tornarmos mais conscientes dos sinais do nosso corpo (de fome, de sede e de cansaço), das nossas emoções (irritação, impaciência, desassossego), e do tom dos nossos pensamentos (julgarmo-nos sozinhos, até mesmo no meio dos outros, ou pensarmos que o mundo está contra nós).

Assim, sempre que perante um destes sinais, devemos parar. Halt! Stop!


Parar, nem que seja por alguns segundos, para perceber o que está a causar o desconforto e resolvê-lo quanto antes. Costuma dizer-se que podemos lidar com uma dificuldade de cada vez.

O difícil é ultrapassar um novelo de problemas. Por isso, o objetivo é prestar atenção a cada sintoma assim que surge, resolver ou lidar com a causa do sintoma e recuperar o equilíbrio assim que possível. No caso de estarmos demasiado tempo sem comer, tendemos a ficar irritados ou impacientes devido ao decréscimo no nível de açúcar no sangue. Se não nos apercebermos de que estamos com fome, podemos convencer-nos de que estamos a viver uma situação que nos irrita ou estamos perante alguém com quem não conseguimos lidar, por exemplo.


As implicações são óbvias. Podemos entrar em conflito com alguém ou fugir de uma situação que até poderia ser benéfica para nós, por nos termos deixado levar pela impaciência de quem, afinal, está apenas com fome. No caso das pessoas em recuperação de dependências, estes estados emocionais desconfortáveis conduzem frequentemente a recordações (associações) com os fatores de stress que no passado precipitavam muitos dos episódios de consumo. O mesmo se pode dizer quanto ao cansaço e aos sentimentos de solidão e de frustração, irritação ou ira. Quando muito intensos, estes são sentimentos que podem causar fortes vontades de uso (cravings), tal como acontecia quando as pessoas estavam a usar substâncias ou comportamentos compulsivos.


O cansaço suscita a procura de estimulantes “para aguentar mais tempo” (o trabalho, o sexo, a atenção), e a raiva conduz muitas vezes à procura de sedação/tranquilização (opióides, ansiolíticos e indutores de sono, por exemplo).

A solidão, a carência de afeto e atenção por parte dos outros, é uma das razões apontadas pelos dependentes para o abuso do álcool, das chamadas “drogas de festa” ou dos canabinóides, cujo uso se sustenta na crença errónea de facilitar as amizades. Embora possa servir para enganar a timidez e, por isso, parecer facilitar o convívio, estas substâncias acabam por criar algumas inseguranças e até ideias de tipo paranoide que, no limite, isolam o dependente mais do que o envolve no grupo.


Apesar de conscientes destes mitos sobre os efeitos que certas substâncias e comportamentos tiveram sobre a progressão da sua dependência, as pessoas que destas se libertam, mantêm alguns hábitos automáticos que as podem iludir de novo. Por isso são as primeiras a recorrer a esta rotina H.A.L.T.

Procuram comer a horas regulares durante o dia, procuram ser assertivas na sua comunicação com os outros, reconhecem que precisam de se sentir ligadas a outros de forma significativa cultivando o amor e a amizade, e respeitam os seus limites, não só descansando o que precisam, mas cuidando de perceber o que têm de fazer e do que têm de se afastar para poderem dormir bem.


Se precisar de ajuda ou se quiser saber mais sobre estas e outras estratégias para cultivar a saúde e o bem-estar, contate-nos!



Artigo elaborado por Dra Judite Fortuna, Psicóloga Clínica na ReCare.

95 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
Clown

Clown

Comentarios


© 2020 ReCare.

bottom of page