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Adição: um rol de mentiras

Foto do escritor: ReCareReCare


Quando estamos perante uma problemática aditiva, a vida do adito torna-se um jogo de sobrevivência.

Cada dia é dedicado a esconder os sinais externos da dependência com e sem substâncias, dos amigos, da família e dos colegas de trabalho.



Alimentar uma adição significa desenvolver um arsenal de mecanismos de defesa psicológicos, que podemos rotular de desculpas ou mentiras.


Quando as ações mancham tudo que a pessoa já teve ou tem e ainda consegue continuar o padrão de destruição, mentir para si mesmo torna-se, essencialmente, o caminho de menor resistência.

Seguem-se algumas das mentiras mais frequentes na adição, segundo a identificação de uma adita em recuperação, tendo por base Piti Hauer, especialista em Dependência Química na UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo.


MENTIRA # 1: EU NÃO ME IMPORTO COM A MINHA VIDA E NÃO ME IMPORTO SE O MEU VÍCIO ME MATA.  Deixei de me preocupar com tudo o que me dizia respeito, como

necessidades básicas como comer, dormir, higiene diária; e com a vida profissional como estudos e trabalho, lazer como desporto e música e relações sociais. O que era paradoxal é que quanto mais consumia pior me sentia.


MENTIRA # 2: EU ESTOU NO CONTROLE DO USO DA SUBSTÂNCIA. EU POSSO PARAR SEMPRE QUE EU QUERO. Estava convencida que era uma escolha pessoal, que iria parar quando quisesse e até consumia demasiado, enganando-me com uma suposta “despedida do uso” para voltar a consumir pouco tempo depois.


MENTIRA # 3: EU NUNCA SERIA CAPAZ DE GERENCIAR MEUS PROBLEMAS SEM DROGAS OU ÁLCOOL. Tinha imensa dificuldade em fazer o que quer que fosse sem estar sobre o efeito de álcool e drogas, o que eu não sabia era que aquilo que eu pensava ser a solução era na verdade o meu maior problema.


MENTIRA # 4: EU NÃO SOU IGUAL ÀQUELA PESSOA. ELE ESTÁ EM MÁ FORMA E

DEFINITIVAMENTE PRECISA DE AJUDA. Na comparação com os outros, achava-me sempre uma privilegiada, ou porque ainda não tinha tomado a droga x ou y, ou porque a minha maneira de a consumir era mais fraca do que a maneira do outro, ou porque ainda não me tinha provocado os danos w e z, …


MENTIRA # 5: MINHA DEPENDÊNCIA NÃO AFETA OUTRA PESSOA.

A negação com que olhava para esta realidade, na qual o meu uso afetava e muito os familiares e amigos que me rodeavam era pautada por uma justificação de controlo que me levava a afastar-me deles, em vez de preocupação, confusão e dor ao verem-me assim.


MENTIRA # 6: A VIDA SEM DROGAS E ÁLCOOL É CHATA. A VIDA É MUITO CURTA PARA

SER “CARETA”

Acreditava que os chamados “pessoas normais” eram uns “caretas”, que não sabiam curtir a vida e aproveitá-la. Que tudo era muito mais fixe se fosse feito sob o efeito de substâncias.


Juntando estas mentiras às mentiras que contava sobre tudo e para todos com o intuito de proteger a minha adição, por vezes ficava tão confusa que já nem sabia qual era a verdade e quem eu era no meio das distorções da realidade que criava.


Hoje em recuperação não tenho dúvidas que a velha mentira “Uma vez drogado, drogado para sempre” não mais será tolerada pelos adictos e pela sociedade em geral. É possível viver a realidade, em verdade comigo e com os que me rodeiam. As mentiras fazem parte do passado e é lá que devem ficar.



Elaborado por uma Adita em Recuperação.

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