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Eu endeusava a minha mãe. Para mim ela era perfeita!
Durante a minha infância, desenvolvi uma relação de aliança tão estreita e exclusiva que me lembro de sentir um medo atroz de a perder. Tinha imensos ciúmes da atenção prestada à minha irmã mais nova e ao meu pai, e também muita culpa quando não correspondia às suas expectativas.
Tive sempre uma necessidade de atenção constante por parte dela, o que muitas vezes era difícil, pois passava muito tempo focada no seu trabalho. Eu normalmente era cuidada por outras pessoas, que acabaram por ser uma figura de vinculação muito importante na minha vida.
Tinha medo de dormir sozinha, dormia na cama dela…. Isto até aos 12 anos, altura em que os conflitos de valores começaram a surgir assim como os primeiros sinais do meu distúrbio alimentar e do meu comportamento aditivo. A nossa relação começou a deteriorar-se…
No início da minha adolescência, começou a existir uma recusa dos valores incutidos pela minha mãe e uma revolta contra a imposição por vezes rígida da sua visão do mundo. A minha mãe era uma pessoa excessivamente preocupada com o peso e com a alimentação, com tendência para sintomas depressivos, emocionalmente vulnerável, sempre muito preocupada com o que era socialmente aceite e com pouca capacidade de ser assertiva…Lembro-me de ter sentimentos ambivalentes e contraditórios em relação a ela…de amor e raiva.
Ao mesmo tempo que tinha medo de crescer, porque achava que as pessoas iam deixar de gostar de mim quando me tornasse adulta, almejava ser autónoma, passando a sentir revolta do que me era imposto. Achava que os meus sentimentos e vontades não eram muitas vezes validados por ela. O meu processo de individualização e autonomia acabava por ser dificultado.
À medida que a minha adição progrediu, os conflitos eram constantes, com grandes dificuldades na comunicação e a culpabilização era recíproca. Paradoxalmente, a minha doença parecia unir a família, camuflando os problemas individuas de cada membro. Às vezes, isto mantinha e perpetuava a necessidade de manter a minha adição ativa.
Passei a maior parte da minha vida lutar contra os meus transtornos alimentares e contras os meus problemas com álcool e drogas. Estes comportamentos disfuncionais tinham por base uma procura de uma espécie de anestesia para a dor que sentia. Era um vazio emocional que não se preenchia com nada, uma procura incessante de me sentir amada, uma luta interna entre o querer ser independente e autónoma, mas ao mesmo tempo não querer crescer e não conseguir assumir as responsabilidades inerentes ao crescimento.
A minha identidade era a minha adição, sentia-me invisível no seio familiar se estivesse bem.
Durante anos, fui rotulada como uma pessoa doente e imatura que precisava de cuidados constantes. Por um lado, a minha mãe esperava que eu crescesse e me tornasse autónoma, por outro impedia ou limitava o meu amadurecimento, alimentando a nossa relação de dependência emocional.
A relação com a minha mãe foi uma das mais afetadas com a minha adição. Ela foi a primeira pessoa a perceber as minhas mudanças comportamentais e sinais físicos inerentes ao problema, e foi quem vivenciou mais de perto o sofrimento provocado pela minha adição. Sem dúvida, que sofreu o impacto mais negativo da minha adição!
As consequências resultantes de minha adição ativa foram devastadoras na vida dela: estive praticamente morta nos seus braços, as noites mal dormidas pelo sobressalto e preocupação permanente comigo, os conflitos familiares, as desilusões, a confiança perdida, o medo, o pânico de me perder e muitos outros danos psicológicos e materiais.
Mesmo assim, depois de tudo isto, esteve lá para me incentivar a procurar ajuda e não desistiu de mim, quando eu própria desisti!
Depois de entrar em recuperação consegui compreender o papel da minha mãe, tanto no início dos meus problemas, como na sua manutenção, assim como na minha recuperação.
Quando decidi ficar em recuperação, foi difícil reconhecer, compreender e aceitar que a relação com a minha mãe era tudo, menos funcional.
Depois de entrar em recuperação, a nossa relação melhorou muito, sendo agora mais saudável…. Autonomizei-me, aprendi a colocar limites na nossa relação e a comunicar de forma mais assertiva.
Sei que ela não é, nem será perfeita e que fez o melhor que soube e conseguiu!
Hoje, assumo a total responsabilidade pela minha recuperação e tento-me pôr no seu lugar!
Não esqueço que esteve e está sempre lá para mim. Amo-a com todo o meu coração. Obrigada Mãe!
De uma adita grata em recuperação!
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