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Encarar processos de mudança implica, frequentemente, reconhecer medos e inseguranças ou questões até mais profundas, emocionais e inconscientes para o indivíduo.
Ouvimos com frequência dizer "o que é preciso é saúde, o resto tudo se consegue".
No início do ano vivemos uma época propícia a momentos de reflexão e propostas de mudança de vida.
Adotar estilos de vida mais saudáveis, com o iniciar da prática de exercício físico, uma alimentação saudável, com a redução de gorduras ou açucares, aumentar o consumo de água, reduzir ou eliminar o consumo de tabaco ou outras substâncias nocivas, ir ao médico ou ao dentista. Estes desejos comuns são referentes à esfera da saúde que é descrito como um dos pilares na vida, e que por si só contempla uma panóplia de intenções, comportamentos e micro comportamentos. E estes por sua vez implicam, abandonar o comportamento antigo, adotar um novo comportamento e/ou mantê-lo. Parecem processos simples, mas cada um tem as suas vicissitudes e complexidade ao nível psicoemocional e cognitivo.
Na verdade, arriscaria a dizer que das pessoas que comeram as doze passas à meia noite de 2020 e que procuram ser coerentes nos primeiros passos da sua mudança, mais de cinquenta por cento abandona ou retrocede após um curto período de tempo.
Já lhe aconteceu a si? Porque será que isto acontece? Faz sentido a frase "somos um animal de hábitos"? Será que a explicação está na conhecida "força de vontade" ou falta dela?
Sugiro que perante um determinado desejo, meta, ou consciência de modificação comportamental, encontre a resposta para as seguintes questões: qual a intenção por trás desse comportamento que eu quero mudar? E, de zero a dez o quanto eu estou comprometido a iniciar já a mudança e o quanto eu tenho intenção de mantê-la daqui a três, seis meses e um ano?
Uma estratégia eficaz, sustentada por correntes teóricas da Psicologia, para refletir quando se está perante um desejo de mudança na vida, é conhecer as três necessidades psicológicas básicas: Competência, Autonomia e Pertença.
Se o comportamento que se pretende mudar proporcionar a satisfação de uma ou mais necessidades, a inspiração ou motivação para a mudança efetiva será maior e melhor sucedida.
Explicando cada uma destas necessidades e a sua aplicabilidade. Quando se pretende adotar um novo comportamento, por exemplo, iniciar a prática de atividade física, sinto-me competente e capaz nesse novo comportamento? Vejo-me a conseguir entrar num ginásio ou sinto-me mais capaz de caminhar na rua? Sinto me capaz de investir uma mensalidade ou prefiro liberdade e natureza? Vejo-me a seguir um plano feito por um especialista ou prefiro ser autodidata na minha prática?
Estas questões satisfazem a necessidade de COMPETÊNCIA. Por outro lado, este novo comportamento traz-me mais percepção de autonomia? Eu posso escolher ou é algo que foi imposto por alguém ou algo? Autonomia não no sentido de independência, mas no sentido de liberdade de escolha, sem qualquer pressão. Vou iniciar a prática porque o médico sugeriu? Porque a minha vizinha vai? Estas questões satisfazem a necessidade de AUTONOMIA. Finalmente, este novo comportamento transmite-me sentimento de inclusão, relacionamentos positivos, aceitação por parte dos outros? Sinto-me conectado e identifico-me com este novo comportamento e com as pessoas que o adotaram? Sinto identificação com as pessoas que caminham na rua ou com as que treinam no ginásio? O novo comportamento preenche-me a necessidade de estar ligado a algo ou alguém? Estas questões satisfazem a necessidade de PERTENÇA.
Nos tempos modernos, onde momentos de pausa são escassos e o espaço para a autoanálise e introspeção é quase inexistente, deparo-me frequentemente na minha prática clínica, com clientes sem resposta a estas questões, por vezes escravos de uma rotina, carregada de hábitos e do "eu tenho que" ou "tem de ser assim, sempre foi".
Apesar da sociedade, os media e as redes sociais terem um impacto significativo ao nível das tendências, do que "deveríamos ser" ou o que é "suposto fazer-se", é no autoconhecimento e na individualidade que se tomam decisões coerentes e consistentes de acordo com o processo evolutivo e vivências de cada um.
Na área do Coaching e Desenvolvimento Pessoal este é um dos processos mais solicitados pelos clientes: a mudança. Mudar de carreira, tomar decisões, estabelecer prioridades, metas, objetivos e melhorar resultados nas mais diferentes áreas da vida.
A procura de ajuda especializada, pode ser considerada em dois tipos de contexto: quando a perceção da situação atual é frágil (fuga da dor). Ou quando a motivação para a situação ideal, como o melhorar a performance, atingir sucesso e melhorar resultados, é elevada (procura do prazer).
Encarar processos de mudança implica, frequentemente, reconhecer medos e inseguranças ou questões até mais profundas, emocionais e inconscientes para o indivíduo, onde se disponibiliza uma outra alternativa credível que é a procura de suporte psicológico e psicoterapêutico, sobretudo se houver presença de sofrimento psicológico ou mesmo um quadro de psicopatologia, acompanhado de situações de impasse nas quais o cliente afirma "sinto-me perdido", "não sei o que quero, sinto-me frustrado" ou "estou num beco sem saída, sem capacidade para decidir nada na minha vida".
É indiscutível que a Vida Humana está em permanente mudança, conflitos e incertezas; onde vai emergindo um Eu em cada uma das diferentes fases de desenvolvimento. A promoção da capacidade de adaptação, o pensamento crítico, a criatividade, a flexibilidade emocional, a atitude assertiva, a autoconsciência, autocompaixão e a autoaceitação, vão espelhar-se na capacitação pessoal e nos processos de modificação comportamental, prevalecendo estas competências, em detrimento da ação por impulso, da procura pela gratificação imediata, no padrão de adiamento ou atitude passiva, ou refletida pela pressão familiar, relacional, profissional ou social.
Adaptação da crónica da Psicóloga Rita Morais, para a revista sábado.
Pode ver o artigo original aqui.
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